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Wilma Martins

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Wilma Martins Morais (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1934 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiri, 2022). Pintora, gravadora, desenhista, ilustradora, figurinista e diagramadora. Destaca-se por explorar desdobramentos inusitados da realidade, misturando entidades e contextos aparentemente incompatíveis. Ao retratar cenas comuns, inclui situações inesperadas, que afastam a realidade da banalidade cotidiana.

Inicia seus estudos artísticos em 1953, em Belo Horizonte, tendo como professores os artistas Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), Franz Weissmann (1911-2005) e Misabel Pedrosa (1927). As aulas são de desenho e pintura, na Escola do Parque. 

A partir de 1954, participa de mostras individuais e coletivas, no Brasil e no exterior. A primeira individual ocorre em 1960, na Biblioteca Thomas Jefferson do Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos, em Belo Horizonte. Na exposição, 16 desenhos e 10 xilogravuras apresentam insetos, plantas e casas, resgatando experiências vividas pela artista na zona rural e periférica de Belo Horizonte.

Quando se muda para o Rio de Janeiro, em 1966, começa a trabalhar como diagramadora em revistas, e, à noite, dedica-se à xilogravura. No ano seguinte, expõe na Galeria Goeldi um conjunto de 14 xilogravuras produzidas entre 1966 e 1967. Algumas das obras são: Juízo finalÁrvore do saber: selvaLíquido amniótico e Limbo. Questionada na época sobre os títulos, a artista afirma que não pode dizer mais do que está gravado na madeira. Para ela, dar concretude a certos sentimentos e pensamentos faz com que ela comece a entendê-los.

Faz parte da Bienal Internacional de São Paulo duas vezes. Na primeira, em 1967, expõe quatro xilogravuras produzidas naquele mesmo ano. Recebe o Prêmio Itamaraty pelo trabalho. Na segunda vez, em 2016, expõe duas obras da década de 1980, da série Cotidiano.

Wilma participa do Panorama de Arte Atual Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) em diferentes anos, com obras de diferentes técnicas. Em 1971, expõe xilogravuras; em 1974, desenhos de bico de pena em ecoline, com grandes dimensões (76 x 56cm); em 1976, apresenta três pinturas feitas com vinil e acrílico e, pela peça Cotidiano XVI, em que dois elefantes surgem em cena doméstica que contém um telefone, ganha o Prêmio Museu de Arte Moderna de São Paulo, na categoria pintura.

A série Cotidiano é produzida entre os anos 1975 e 1984. Nela, a artista primeiro produz as obras em desenho (nanquim e aquarela) e depois em pintura (acrílica). Posteriormente, redesenha todas, que são publicadas em livro fac-símile. Os espaços domésticos são ocupados por elementos da natureza, como plantas e animais: numa cena, árvores e um curso d’água pequeno se inserem gradualmente em uma pia de banheiro; noutra, a grama invade uma mala guardada em um armário; em mais um exemplo, animais silvestres se locomovem por uma cama desarrumada. Esses elementos naturais são os únicos coloridos em cenários de preto e branco.

Para o crítico de arte Frederico Morais (1936), os animais completam o espaço de modo preciso. Além disso, transformam os ambientes domésticos em seus habitats naturais ⎼ uma cama em pradaria, por exemplo. O crítico Ferreira Gullar (1930-2016) escreve sobre dois livros lançados por Wilma em 2015: Caderno de viagem e Cotidiano, ambos com desenhos dela. Segundo ele, a artista “realiza uma poética do ambiente doméstico, em que pressente o mistério e nos mostra.”[1] Para o crítico, a artista não revela a realidade, mas a inventa.

Em catálogo de 1976, Wilma escreve: “A tela, o papel e tintas são o veículo de uma possível apreensão de mim mesma e do mundo”[2]; além disso, assegura que, para ela, importa sonhar a partir do cotidiano e tornar o sonho mais real que a realidade, quando esta é insatisfatória.

Wilma Martins se distingue por deparar-se com o mundo externo em seu funcionamento normal e procurar subvertê-lo. Realidade, estranhamento e fantasia são os elementos essenciais de sua obra.

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  • Wilma Martins - O Passeio

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