A Amizade de Cícero Dias e Pablo Picasso
Você sabia que a amizade entre Cícero Dias e Pablo Picasso, uma das mais célebres do mundo da arte, nasceu em meio a um alvoroço político? Pablo Picasso tinha seu ateliê na Rue des Grands Augustins, em Paris, e por lá acolheu muitos exilados após a guerra, entre eles escritores e pintores. Foi nesse contexto que Cícero Dias entrou em contato com a figura mais influente da arte contemporânea.
Pablo Picasso, Cicero Dias e sua filha
Ele passou a visitar frequentemente o ateliê de Picasso, onde foi apresentado a um círculo de intelectuais, mas foi com Picasso que ele desenvolveu uma amizade mais próxima, a partir de suas afinidades artísticas e culturais, com almoços e jantares repletos das melhores discussões sobre arte.
Essa amizade foi se fortalecendo e se tornou tão verdadeiramente sinônimo de parceria que, por 12 anos, os dois até usaram o mesmo telefone, já que o número de Picasso foi registrado em nome de Cícero na lista telefônica francesa, para evitar importunação. Assim, é provável que muitos que tentaram contatar Cícero acabaram ouvindo o “alô” do próprio Picasso.
Esse laço se tornou tão íntimo que, quase como um membro da família, Picasso foi padrinho do casamento da filha de Cícero, Silvinha, em 1972.
Em outro momento marcante dos verdadeiros amigos, Picasso presenteou Cícero com dois desenhos e algumas telas para seu amigo vender e financiar sua nova casa na Avenue Longchamps.
Essa amizade, marcada por um profundo apoio mútuo, perdurou até os últimos dias de suas vidas.
Como eram as gravuras de Cícero Dias e Pablo Picasso?
As gravuras de Cícero Dias tinham cores vivas que conferiam dinamismo às suas obras, e sua linguagem visual era uma fusão de surrealismo com as tradições folclóricas e o cotidiano do Nordeste brasileiro.
Serigrafia “Descanso” de Cícero Dias
Em suas gravuras, ele representava figuras humanas, principalmente mulheres, animais e elementos da natureza de forma estilizada e, ao mesmo tempo, abstrata, criando imagens que remetiam tanto à realidade quanto ao imaginário.
Serigrafia “Figura Feminina” de Cícero Dias
Cícero também se destacava por seu caráter experimental, explorando sempre novas técnicas e materiais.
As gravuras de Pablo Picasso também refletiam a vasta gama de interesses e experimentações do artista.
“Le Rêve” gravura de óleo sobre a tela, de Pablo Picasso
Para Picasso, a gravura era uma forma privilegiada de expressar seus pensamentos e memórias, e ele explorava uma grande diversidade de temas, como touradas, figuras femininas, paisagens espanholas, cenas eróticas e mitológicas.
“Paisagem Mediterrânea” de Pablo Picasso
Através da gravura, Picasso conseguiu dar voz a suas reflexões e a seu estilo singular, que mesclava diferentes técnicas e abordagens.
Cícero Dias e Pablo Picasso: juntos em momentos cruciais de seus trabalhos
Com 349 cm de altura por 776,5 cm de comprimento, "Guernica" é uma das obras mais admiradas de Pablo Picasso e uma poderosa expressão política, carregando uma mensagem vigorosa contra regimes totalitários e opressores. E você sabia que na época em que Picasso estava criando essa obra-prima, Cícero Dias já era seu amigo e teve a honra de acompanhar o processo em seu ateliê?
Assim como neste, ambos estiveram em muitos momentos significativos na vida um do outro inclusive de diversos processos criativos, em que era inegável que a arte de um inspirava a do outro.
Outro momento em que os trabalhos se entrelaçaram, foi quando Picasso cedeu mais de 30 obras para uma exposição relevante de Cícero Dias.
Pode-se afirmar que essa amizade transcendia a presença de um na vida e na arte do outro. Muitos observadores diziam que a arte de um influenciava a do outro, que inclusive, havia uma característica "picassiana" nas obras de Cícero Dias.
“Eu vi o mundo... Ele começava em Recife” de Cícero Dias, apelidada de Guernica Brasileira.
Uma de suas criações mais famosas e polêmicas, "Eu vi o mundo... Ele começava em Recife", foi apelidada de "Guernica Brasileira" devido aos aspectos semelhantes com a célebre obra de Picasso.
E, por falar em Guernica, claro que não podemos deixar de mencionar a influência de Cícero na vinda histórica dessa obra ao Brasil. Esse é o tema do próximo capítulo, que exemplifica de maneira marcante essa parceria.
“Guernica” de Pablo Picasso
A influência de Cícero Dias na trajetória de "Guernica" no Brasil
"Guernica" era muito estimada por seu criador, que só a levou para a Espanha e para o Museu de Arte Moderna de Nova York, mas não por falta de oportunidades, pois dizem que Picasso recebeu diversos convites para levá-la a outros países, mas negou todos.
Guernica exposta na Segunda Bienal de Arte de São Paulo de 1953
Claro que o convite para a levar ao Brasil chegou, e a princípio também foi negado. Mas isso mudou, e a obra foi exposta na 2ª Bienal de São Paulo, em 1953, trazida ao Brasil por “Ciccillo” Matarazzo, junto com dona Iolanda Penteado.
Mas como conseguiram esse feito? É claro que Cícero Dias teve um papel fundamental. Ele teve a missão de obter a autorização necessária do próprio Picasso, que estava em retiro no sul da França. Cícero relatou que o processo de convencimento não foi nada fácil, ele foi pessoalmente até Picasso e argumentou sobre a importância de “Guernica” estar no Brasil.
Ele contou que, entre os motivos, disse ao amigo que, devido ao seu sentido universal, a obra deveria percorrer o mundo, incluindo o Brasil, pois expressava o clamor do homem pela liberdade e servia como um marco da arte e da cultura diante da violência e da opressão.
E o discurso deu certo e Picasso concordou. Esse dia ainda rendeu uma história engraçada para Cícero: após a conversa, Picasso o convidou para um almoço, mas, temendo que o amigo mudasse de ideia durante a refeição, Dias optou por recusar o convite, alegando ter outro compromisso. Mais tarde ele voltou ao ateliê de Picasso e confirmou que a autorização ainda estava em vigor. Assim, foi providenciado um documento para o Museu de Arte Moderna de Nova York, autorizando a entrega de “Guernica” para ser exibida na Bienal de São Paulo.
Cícero Dias e Pablo Picasso: o último encontro
Cícero Dias recordou com carinho do seu último encontro com Picasso, em que ele, a sua esposa Raymonde e a filha Silvinha foram à casa do artista, que estava em reunião com diretores do MAM de Nova York.
Cícero lembra que logo quando chegaram já foram recebidos pelo amigo que apresentou aos membros, que estavam ali com eles, Cícero como alguém da família. Entre taças de vinho, relembraram momentos passados, causando uma emoção mútua na sala, e relembrara a apoteose da presença de "Guernica" no Brasil.
Ao se despedirem, Picasso acompanhou Cícero até a porta e, com um carinhoso “Hasta luego, Dias”, ali se despediram eternamente. O que deixou uma marca indelével na memória do artista brasileiro.
Essa amizade não apenas cruzou fronteiras, mas também deixou um legado na história da arte.
Você já conhecia esses capítulos e curiosidades sobre essa amizade? Inspiradora, não é?! Dois artistas tão relevantes e eternos, de mundos diferentes, unidos pela arte e pela genialidade.
Imagine como foi para Cícero Dias, alguém que saiu de uma vida simples no Brasil, chegar à França e se tornar amigo de uma das figuras mais influentes da arte.
Além de celebrarmos essa amizade, também nos orgulhamos da trajetória de Cícero Dias. Você sabia que na Galeria Livia Doblas temos diversas obras do artista?
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