Alfredo Volpi: a Carreira do Artista além das Bandeirinhas
Alfredo Volpi em seu Ateliê
A vida e a obra de Alfredo Volpi podem ser analisadas de formas muito parecidas, como algo único, de fácil reconhecimento, desde sua voz marcante com um sotaque italiano carregado, até suas linhas e formas, que quando em conjunto fizeram algo único na história da arte brasileira.
Muito conhecido pelas "Bandeirinhas de Volpi", e por suas obras abstratas e cheias de formas geométricas, Volpi, unanimemente, foi um dos grandes artistas da segunda geração da Arte Moderna Brasileira e curiosamente não iniciou sua trajetória na abstração, pelo contrário, iniciou sua carreira produzindo inúmeras obras realistas e paisagens por diversas questões culturais e experienciais.
Alfredo Volpi - Bandeirinhas IV
Alfredo Volpi também inseriu diversos conhecimentos com o passar dos anos de sua carreira e foi ficando com o repertório cada vez mais vasto. Utilizou técnicas da gravura como a serigrafia e a litografia em seu repertório e hoje, temos diversas obras únicas de sua autoria.
O Pequeno Alfredo Volpi
Veio para o Brasil muito novo, em 1897, com um ano e alguns meses de idade, seus pais, que vinham da Itália com o intuito de fugir das dificuldades que a Europa enfrentava naquele momento, fixaram residência em São Paulo. A partir daí, Volpi passa toda sua vida em território brasileiro.
Sua personalidade criativa já podia ser vista ainda muito novo, na Escola Profissional Masculina do Brás, onde teve seu primeiro contato com a tinta, algo que caminharia ao seu lado pelo restante de sua vida, por lá Volpi já gostava de misturar e descobrir novas cores. Anos mais tarde, em busca de seus primeiros passos profissionais, Alfredo encontrava, nos trabalhos manuais, algo que afloraria ainda mais o seu lado artista.
O trabalho em uma gráfica, além de deixá-lo mais próximo de materiais artísticos e do manuseio de elementos que ficariam ao seu lado por anos, permitiu que ele comprasse suas primeiras aquarelas. Antes disso, Volpi já havia trabalhado como assistente de marcenaria, e fazendo trabalhos de entalhador.
Pouco tempo depois, sua relação com as tintas ficaria ainda mais próxima. A partir daí, já era possível perceber que os trabalhos manuais e muito próximos aos artísticos já deixavam de ser apenas uma oportunidade para o jovem Alfredo Volpi, mas começavam a fazer parte de seu planejamento de vida. Volpi, então, começou a pintar muros de casas e a auxiliar em trabalhos de decoração em casarões, que eram muito comuns na época.
As primeiras telas de Alfredo Volpi
Com a relação extremamente aflorada com elementos artísticos, Volpi produz suas primeiras obras pouco tempo depois. Na época, a tinta óleo dava vida a telas muito distintas do que o decorrer de sua carreira mostraria. As paisagens e casas eram os elementos mais presentes, suas obras traziam um teor mais realista. De qualquer forma, se compararmos com as obras mais reconhecidas de sua carreira, é possível analisar semelhanças em suas pinceladas mais fortes e rústicas, que o acompanharam em todo decorrer de sua carreira.
Pouquíssimos anos depois, na segunda metade dos anos 30, Volpi já fazia parte do Grupo Santa Helena, fazendo desenhos de modelo vivo e trabalhando em um ateliê conjunto, algo que seria muito relevante para o andamento de sua carreira, já que poderia receber e dar ensinamentos valiosos aos participantes, ao mesmo tempo em que começavam a participar de exposições mais relevantes no meio artístico paulista.
Alfredo Volpi - Paisagem - Óleo sobre Tela
A carreira consolidada de Alfredo Volpi e Itanhaém
É no início dos anos 40 que pode ser notado que Volpi atingiu a marca de “Artista Consolidado”. Nesta época, ganha um concurso do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ainda com obras que já começavam a trazer o viés de temas mais populares e de religião. Poucos anos mais tarde, o reconhecimento se torna ainda mais claro, e Volpi realiza sua primeira exposição individual, na Galeria Itá, em São Paulo.
Logo em seguida, surge uma inesperada surpresa na vida de Volpi, uma sequência de visitas à cidade de Itanhaém para visitar sua esposa, que vivia por lá para cuidar de uma doença. Por lá, Alfredo Volpi integra o litoral de São Paulo a suas paisagens. As obras que tinham tonalidades escuras começam a trazer tons mais claros e com mais leveza. Mas não foi apenas nas paisagens que a cidade de Itanhaém enriqueceu o repertório de Volpi, pelo contrário, a cidade seria a responsável por trazer um dos pontos mais característicos de suas obras, as famosas “Bandeirinhas de Volpi”.
Alfredo Volpi - Paisagem de Itanhaem - Óleo sobre Tela
Foi em um dos finais de semana que passava por lá que Alfredo se deparou com as bandeirinhas de São João, algo que estaria em suas idéias por anos.
Alfredo Volpi - Bandeiras Brancas e Rosas - Serigrafia
A visita à Itália e as Bandeirinhas de Alfredo Volpi
Mesmo com a ideia das Bandeirinhas em mente, a inserção em suas telas não é imediata. Antes disso, Volpi viaja para a Itália e de lá traz mais conhecimento e repertório artístico, se interessa pelo abstracionismo e pelo renascentismo e começa a pintar fachadas com teor muito mais figurativo que realista. As cores já começam a ser muito mais um elemento que um reflexo da realidade e os traços começam a ser muito mais geométricos que curvos e lineares.
Essa talvez fosse a maior virada de chave na carreira de Volpi, isso se as Bandeirinhas não fizessem tanto sucesso. Com a abstração já muito empregada em suas obras, principalmente em conjunto com linhas e formas geométricas, tudo parece perfeito para a inserção das Bandeirinhas.
Alfredo Volpi premiado, famoso e reconhecido
Alfredo Volpi foi um artista muito reconhecido durante a sua carreira. Participou das três primeiras Bienais Internacionais de São Paulo e, em 1953 chegou a receber o prêmio de melhor pintor nacional. Em 1958, recebeu o Prêmio Guggenheim e realizou a exposição retrospectiva. Também recebeu o prêmio de melhor pintor brasileiro pela crítica de arte do Rio de Janeiro em 1962 e 1966.
Podemos considerar Alfredo Volpi como um pintor por essência, artista completo e que soube escalar a capacidade de produção das suas obras através das técnicas da gravura, como a serigrafia e a litografia.
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