Anna Bella Geiger: a carreira e vida de uma artista inovadora

sexta-feira, 1 de novembro de 2024 19:58:37 America/Sao_Paulo

Anna Bella Geiger

Anna Bella Geiger

 

Com 75 anos de contribuição para as artes visuais, Anna Bella Geiger é uma das artistas mais proeminentes da cena artística brasileira dos séculos XX e XXI, sendo parte da primeira geração de artistas conceituais na América do Sul.

É conhecida pela arte inovadora que abrange diversos meios, incluindo o vídeo, a gravura, a performance, instalações e a pintura.

A carreira de Geiger começou com os estudos na década de 1950, tendo simplesmente a renomada pintora Fayga Ostrower como sua professora.

Em seu início, as suas obras eram caracterizadas por sua abstração informal e, com o tempo, ela passou a se dedicar a outras técnicas, inserindo a gravura em metal e a utilização do guache em seu repertório.

Anna Bella Geiger com sua primeira professora Fayga Ostrower

Anna Bella Geiger com sua primeira professora Fayga Ostrower

 

Uma década após seus estudos, ela desenvolveu uma série que se tornaria um marco em sua carreira, conhecida como sua "Fase Visceral", na qual explorou a relação entre as partes do corpo humano e representações geopolíticas.

Anna Bella Geiger - Visceral - Ponto Central - Guache e Nanquim

Anna Bella Geiger - Visceral - Ponto Central - Guache e Nanquim

 

Por meio dessa abordagem, refletiu e idealizou sobre como partes fragmentadas do corpo poderiam se compor em mapas, criando obras multimídia que ilustram a intersecção entre cartografia e o corpo, como um território em disputa.

Por ser professora, sua prática artística se entrelaça ao pensamento pedagógico, tornando seu trabalho ainda mais significativo.  

Geiger sempre foi engajada no mundo da arte, participando de debates contemporâneos sobre cultura, identidade e história, desafiando narrativas estabelecidas. 

E vive uma abordagem verdadeiramente experimental, navegando por dimensões políticas e pessoais, corporais e conceituais, formais e estéticas. 

Entre suas muitas contribuições, destaca-se seu papel como uma das pioneiras da arte abstrata no Brasil, gravurista e inovadora na videoarte. 

Suas obras podem ser encontradas em diversos museus tanto no Brasil quanto no exterior. Hoje, aos 91 anos, Anna Bella Geiger continua ativa, expondo e participando do cenário artístico.

 

A história e carreira de Anna Bella Geiger

Anna Bella Geiger nasceu em 1933, no Rio de Janeiro, onde cresceu, estudou e iniciou sua carreira.

Após apenas três anos de estudos no renomado ateliê de Fayga Ostrower, a carioca já se destacava na cena artística ao participar da histórica e inaugural exposição de arte abstrata no Brasil, realizada no hotel Quitandinha, em Petrópolis, no Rio de Janeiro.

Com sua carreira em ascensão, em 1954, ela se mudou para Nova York, onde estudou história da arte no The Metropolitan Museum of Art, o MET, sob a orientação de Hannah Levy e, como ouvinte, na New York University. Durante cinco anos na Big Apple, aprofundou seus conhecimentos, expandiu suas influências e então retornou ao Brasil.

Nessa volta, Geiger passou a trabalhar no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o MAM, integrando o ateliê de gravura em metal e lecionando como professora. 

Entre 1962 e 1966, ela vivenciou uma fase intensa, marcada por bienais e exposições que trouxeram reconhecimento ao seu trabalho.

Destacam-se, por exemplo, o 1º Concurso Interamericano de Gravura, em Havana, Cuba, em 1962, onde recebeu o primeiro e único Prêmio “Casa de Las Américas”. A exposição "Brazilian Art Today", no Royal College of Art, em Londres, em 1965; e a 1ª Bienal Latino-Americana de Gravura, em Santiago do Chile, em 1966, na qual conquistou uma menção honrosa.

Fase Visceral de Anna Bella Geiger

Entre 1965 e 1968, ela iniciou um novo capítulo em seu estilo artístico, conhecido como sua "fase visceral", onde explorava a realidade orgânica por meio da representação fragmentada do corpo, sugerindo uma conexão com mapas do microcosmo.

Anna Bella Geiger - América Latina

Anna Bella Geiger - América Latina

 

Essa fase antecipa sua utilização da cartografia, centrando-se no questionamento das limitações territoriais e culturais impostas por fronteiras geográficas.

Anna Bella Geiger - Garganta - 1967

Anna Bella Geiger - Garganta - 1967

 

Ao mesmo tempo, suas obras são compostas por chapas de metal recortadas, revelando e explorando artisticamente o próprio processo da gravura em metal. Exemplos dessa fase incluem as obras "Garganta" (1967) e "Limpeza de ouvido com cotonete" (1968).

 

Anna Bella Geiger - Limpeza De Ouvido Com Cotonete

Anna Bella Geiger - Limpeza De Ouvido Com Cotonete

 

A partir dessa sutil reapropriação do corpo como espaço, surge um novo interesse pela representação territorial, que se expande para uma dimensão cósmica das imagens espaciais. Isso culminou em um novo tema em sua produção artística: a cartografia cósmica, manifestada em uma série considerável de fotosserigrafias intitulada "Polaridades/Lunares".

A partir de 1970, Geiger expande ainda mais suas contribuições ao campo artístico, dedicando-se a diversas mídias, como fotogravura, fotografia clichê, fotomontagem, serigrafia, xerox, cartões-postais, vídeo e Super-8.

Nos anos 2000, o avanço da tecnologia a inspirou  e seu interesse foi voltado a explorar novos métodos, aumentando o uso do vídeo em combinação com gravuras (clichês de metal) e arquivos de ferro na instalação "Indiferenciados" (2001).

 

Anna Bella Geiger – Indiferenciados – Gavetas de ferro

Anna Bella Geiger – Indiferenciados – Gavetas de ferro

 

As Polaridades Lunares de Anna Bella Geiger

A artista carioca começou a explorar uma nova linguagem artística a partir de um material recebido do consulado dos Estados Unidos no Rio de Janeiro: fotografias do planeta Terra e da superfície lunar, capturadas durante as missões espaciais da NASA.

Anna Bella Geiger – Polaridades - Serigrafia e fotogravura em metal e clichê

Anna Bella Geiger – Polaridades - Serigrafia e fotogravura em metal e clichê

 

Com esse material, ela desenvolveu uma aplicação no formato da letra X, e a relacionou com as imagens fotográficas.

Embora as fotos apresentassem baixa nitidez e fossem passíveis de descarte, nas mãos da artista, essa rejeição foi reinterpretada e transformada em um sinal que representa a barreira de acesso aos espaços que essas imagens evocam, mapeando a superfície sob uma perspectiva geopolítica.

Anna Bella Geiger – Ponto Fixo - Serigrafia

Anna Bella Geiger – Ponto Fixo - Serigrafia 

Dessa forma, ela desenvolve exposições excêntricas, únicas e inconfundíveis, que revelam a interpretação pessoal de Anna Bella. Essa produção continua a ser admirada atualmente, e peças exuberantes dessa série você encontra na galeria Livia Doblas, clique aqui para conferir.

Você já conhecia essa artista brilhante? Ainda podemos contar muito mais sobre ela e sua arte, continue acompanhando nosso blog e nossas redes sociais para conhecer mais sobre ela e demais artistas.