A partir de Recife, Cícero Dias conheceu o Mundo e pintou por ele
Cícero Dias - Moças na Janela – Serigrafia
Cícero Dias nasceu em maio de 1907 em Pernambuco, na cidade de Escada e por lá começou seus primeiros estudos sobre história da arte. História essa que hoje é impossível de ser estudada sem se deparar com seu nome.
Logo aos 13 anos o artista já iria para o Rio de Janeiro. No Rio, Cícero teve um contato mais profissional com o aprendizado artístico, aos seus 28 anos, na Escola Nacional de Belas Artes, a ENBA. Estudou sobre arquitetura e pintura e, mesmo não concluindo os cursos, ainda apresentaria ali uma das obras mais polemicas e marcantes da história da arte brasileira.
Suas primeiras obras são predominantemente feitas em aquarela sobre papel. Elas têm em comum a proposital falta de proporcionalidade quanto ao tamanho das pessoas se comparado ao local onde elas se situam e a paisagem ao seu redor.
Cícero Dias - Mulher Nadando - Aquarela e Nanquim sobre papel
A “Guernica Brasileira”
Em 1931 na ENBA, Cícero expôs sua mais importante obra: “Eu Vi o Mundo... Ele Começava no Recife. Uma obra imponente de 1 metro e 98 de altura por 12 metros de comprimento, considerada polêmica na mesma proporção de sua extensão, e que foi chamada por muitos de “A Guernica Brasileira”.
Cícero Dias - Eu vi o mundo… Ele começava no Recife - Técnica mista sobre papel
A obra era muito polemica para a época pois trazia mulheres nuas por todas as partes. Com todos os seus 12 metros de comprimento, a obra foi “censurada” e teve 3 metros literalmente cortados. A história conta que a esta obra foi pintada em uma casinha em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, e demorou mais de 3 anos para ser finalizada.
Um dos pioneiros do modernismo brasileiro
A obra “Eu vi o mundo… Ele começava no Recife” marca a sua entrada na vanguarda modernista brasileira, porém, antes deste marco, Cicero Dias já estava em contato com os modernistas.
Cícero Dias - Sem Título - Óleo sobre tela
O pintor também fez obras que pairaram entre o figurativismo e a abstração.
Em 1991, o artista fez o Mural Cores e Formas, localizado em um metrô da cidade de São Paulo. A obra tem 2 metros de altura por 20 de comprimento e foi pintada a revolver de tinta sobre cerâmica.
Cícero Dias - Mural Cores e Formas - Tinta sobre cerâmica
Perseguição por Ditaduras e a Europa
Com a decretação do Estado Novo, na última fase da Era Vargas, Cícero Dias foi preso, assim como outros inúmeros artistas que não seguiam a “cartilha” do governo de Getúlio.
Pouco tempo após sua prisão, Cícero viaja a Paris a passeio, convidado e aconselhado a aprender muito mais no velho continente por seu amigo Di Cavalcanti. Mais tarde, em 1937, mudaria em definitivo e, por lá, faria amizade com artistas de renome internacional como Pablo Picasso e Henri Matisse .
Com o auge da Segunda Guerra Mundial, foi preso novamente e mandado para a Alemanha. Assim que conseguiu sua liberação, viajou para Portugal, onde ficou até o estopim da Guerra. No mesmo ano mudou-se para Paris, sua residência fixa até os últimos momentos de sua vida.
Nessa época, pintou com mais cuidado, prestou mais atenção nas cores e cuidou de seus traços, se desfazendo vagarosamente da imagem de desleixado que tinha anteriormente. Durante essa fase, pintou com a lembrança de suas paisagens nordestinas e temáticas que remetiam ao Brasil. Pouco tempo depois Cícero foi incluindo pinturas mais abstratas em suas obras e foi a fundo por elas.
Cícero Dias - Mormaço - Óleo sobre tela
Curiosidades sobre Cícero
A primeira exposição individual de Cícero Dias foi em um Hospício.
Além de ser conhecido por ser o pintor da “Guernica Brasileira”, Cícero foi o grande responsável por trazer a verdadeira Guernica ao Brasil, na Segunda Bienal de São Paulo, pela sua amizade com Pablo Picasso. Além disso, Cícero Dias também fez com que Picasso emprestasse mais 30 de suas obras para a exposição.
Em 1998, quando tinha 91 anos de idade, recebeu do governo francês a Ordem Nacional do Mérito da França.
Cícero Dias morreu em janeiro de 2003, aos 95 anos, na cidade de Paris.