As obras de traços fortes e as referências artísticas de Iberê Camargo
Iberê Camargo - Figuras e Manequins
Gaúcho de Restinga Seca, Iberê Camargo nasceu em 1914 e teve seus primeiros passos na arte em 1927, aos 13 anos, quando estudou pintura com o paulista, pintor, professor e militar Salvador Parlagreco, na Escola de Artes e Ofício de Santa Maria. Anos mais tarde continuou seu aprendizado artístico na cidade de Porto Alegre e estudou arquitetura e pintura no Instituto de Belas Artes, onde conheceria sua futura esposa Maria Cossirant Camargo, sua colega do Instituto.
Iberê casou e fez sua primeira exposição em 1942, quando também se mudou para o Rio de Janeiro. Por lá, estuda pouco tempo na ENBA, a Escola Nacional de Belas Artes. Mesmo frequentada por inúmeros artistas brasileiros de renome nacional e internacional Iberê não se satisfez com o modo de aprendizado e partiu para um Estudo mais particular com Alberto Guignard.
Guignard talvez tenha sido para Iberê a maior de suas inspirações artísticas, com citações fortes e de extrema importância para o entendimento de suas obras e sua carreira como um todo: “A sua obra teve breve influência sobre o meu trabalho, mas marcou-me para sempre a pureza do seu espírito.”.
Pode se dizer que os estudos acompanharam o gaúcho por toda a sua carreira e em 1947, quando vai para a Europa também para estudo artísticos, em Roma e Paris Ibere conhece artistas importantes do cenário internacional como Antônio Achille, André Lhote, Carlos Alberto Petrucci, Giorgio de Chirico e Leone Augusto Rosa.
A fase figurativa e o caminho para o não-figurativo
No início de suas obras, Iberê adotou um estilo figurativo. Eram comuns em suas obras as pessoas e paisagens naturais. Tudo que é visto no meio da arte como o estilo naturalista e expressionista, assim como as cores, eram para a arte de Iberê Camargo um dos pontos de maior importância.
Nessa época o artista fez a série “Os Carretéis”, que remetia à infância de Iberê e à sua casa repleta desses objetos que ficaram muito conhecidos na arte brasileira.
Iberê Camargo – “Os Carretéis”
A partir do final dos anos 50 e início dos 60, o artista começou uma fase menos figurativa onde as cores e enfoque se tornaram menos reais e com escolhas conscientes e muito mais subjetivas. Após isso, houve uma fase na qual Iberê Camargo pairou sobre fundos negros e a sobreposição de cores saturadas e fortes, sempre com a característica do excesso de cor em suas pinturas, pelo que ele considerava uma necessidade do seu tato assim como uma criança gosta de comidas crocantes. Iberê gostava de sentir suas obras.
Iberê Camargo - Espaço com Figura
A relação com tinta e com a gravura
Iberê formou muitas de suas obras através dessa espécie de acúmulo de tinta em seus quadros e é interessante perceber que mesmo construindo o processo artístico com camadas espessas e traços fortes de tinta nas telas, Iberê também soube trabalhar com o contrário, a gravura, que funciona com o inverso do acúmulo e trabalha muito com as partes da obra que não tem inserção de tinta. Ele foi exímio nas duas técnicas.
Iberê Camargo - Formação de Carreteis
Importância nacional
Iberê Camargo foi pintor, desenhista e gravador. Na arte, foi um dos maiores profissionais do século 20. Curiosamente, em uma escola onde ficou por pouco tempo como estudante por não se identificar com sua didática, Iberê foi professor. Se a ENBA não lhe satisfez como aluno, ele pode modificar o que não lhe agradava e atender à vontade de ajudar futuros artistas.
Iberê Camargo - Retrato de Werner Amacher
A importância de Guignard para a obra de Iberê Camargo ficou ainda mais evidente quando o artista foi um dos fundadores do Grupo Guignard, um ateliê no Rio de Janeiro, nomeado em homenagem ao artista de maior influência na carreira do gaúcho e responsável por seus maiores aprendizados tecnicamente.
Iberê Camargo faleceu em 1994 depois de complicações de um câncer.