O Nordeste, os Gatos, o Cotidiano e as Marcantes Obras Figurativas de Aldemir Martins
Aldemir Martins – Frutas – Acrílica sobre tela
Pintor, ilustrador, escultor, gravador e artista plástico, Aldemir Martins foi uma das grandes figuras da Arte brasileira e marcou a história com figuras nordestinas como as paisagens, cangaceiros, galos e frutas. Ficou famoso também por seus característicos gatos que tinham cores e traços exóticos. Nascido em Ingazeiras, no Ceará, em 1922, Aldemir começou seus passos artísticos logo cedo. Desde criança já era conhecido no Colégio Militar e fazia desenhos que eram caracterizados por seus traços fortes e marcantes.
Com 19 anos, Aldemir já tinha atuação forte no meio artístico da região de Fortaleza e junto com Mário Baratta, Antonio Bandeira e João Siqueira ajudou a fundar o Centro Cultural de Belas Artes, que mais tarde foi renomeado SCAP, a Sociedade Cearense de Artes Plásticas.
Na mesma época, o Cearense servia ao exército e ganhou a curiosa patente de “Cabo Pintor”, pois era responsável pela pintura das viaturas sem deixar de lado sua veia artística criativa, pintando e desenhando também nas horas vagas.
A partir daí, se dá o início de uma das mais ricas e intensas histórias da Arte Brasileira.
O Nordeste Muito além do Nordeste
Coisas, lugares, alimentos e paisagens típicas do Nordeste brasileiro sempre estiveram muito presentes nas obras de Aldemir. Cearense e filho de uma mãe indígena, não poderia figurar melhor a persona de um Brasileiro, que sempre representou sua realidade. Nas linhas de suas obras estavam sempre presentes os cangaceiros, os cestos de frutas típicos do Nordeste e os galos, sempre em linhas sinuosas e com cores intensas. As paisagens também foram muito pintadas por ele. Aldemir Martins pintou o Brasil.
Aldemir Martins - Cangaceiro – Óleo sobre tela.
Aldemir Martins nem de longe foi um artista apegado em uma só técnica ou estilo, e unindo a isso sua vontade de estar em lugares diferentes, fez obras com temáticas e aplicações diversas.
Aldemir Martins - Marinha – Acrílica sobre Cartão
Saiu do Nordeste muito cedo. Morou pouco tempo no Rio de Janeiro e logo foi para São Paulo, onde chegou em 1946, com 23 anos de idade e aprendeu que aquela não era uma cidade onde se “pode parar”.
Fez ilustrações para embalagens, rótulos de vinho, latas de sorvete, jogos de mesa e em seu auge fez a vinheta da novela “Gabriela, Cravo e Canela” e “Terras do Sem Fim”, ambas da Globo.
Como gostava de pintar os “Amores dos Brasileiros”, também pintou o que era para ele o que o brasileiro mais gostava de fazer depois de tomar cachaça: o futebol e os maiores astros da época Pelé e Rivelino.
Aldemir Martins – Rivelino – Gravura
Aldemir Martins – Pelé – Serigrafia
Os gatos também estavam entre esses amores que gostava de pintar. Segundo ele, todos os seus gatos vieram de uma senhora que lhe fez uma encomenda e, a partir desse episódio, todas as senhoras também queriam seus gatos pintados por ele.
Aldemir Martins – Gato Azul III – Acrílica sobre tela
Muito além dos Quadros
Conforme dito no parágrafo anterior, até mesmo nas telas de televisão foram parar suas obras. Desde os rótulos até as telas, as aplicações só foram possíveis pois o conhecimento de como aplicar cada tipo de arte estava em seu repertório. Desde sempre, Aldemir pintou em vários tipos de superfície: cerâmica, acrílico, madeira, papel, telas e tecidos e até mesmo joias. Em seu atelier, era possível ver obras pintadas em caixas de papelão e embalagens de pizza. Classe e simplicidade sempre estiveram presentes na obra de Aldemir.
Gato Pintado por Aldemir em uma Caixa de Pizza
À frente de seu tempo
Aldemir era considerado por muitos um artista à frente de seu tempo, que produzia muito, trabalhava muito e sabia muito bem vender e dar valor a suas obras. Ao mesmo tempo, era solidário. Quando convidado a uma exposição ou para um trabalho, era comum que levasse amigos consigo, dava oportunidades e ajudava os que precisavam de trabalhos no momento.
Tecnicamente, ele se preocupava mais com as cores do que com as formas. Fazia o “Jogo livre das cores”. Pessoalmente, tinha “alegria de viver”, era “um trabalhador que não pensa em morrer”. Viajava todo ano a Paris e a única saudade que sentia era de ser livre, já que tinha muitas obrigações, porém muita vontade de fazer.
O Melhor Desenhista Internacional
Sua carreira atingiu seu ponto máximo em 1956, quando foi premiado como o Melhor Desenhista Internacional na 28ª Bienal de Veneza. A partir daí foram anos de muito trabalho, reconhecimento e obras para grandes marcas, estampando desde rótulos e aparelhos de mesa de jantar à abertura de novelas.