Eduardo Sued e suas gravuras cromáticas: a subtração e soma das formas e das cores

quarta-feira, 13 de novembro de 2024 19:25:20 America/Sao_Paulo

Eduardo Sued é um artista brasileiro que decidiu renunciar à representação da realidade. Sua obra não se limita a retratar paisagens ou narrar histórias, mas busca uma experiência plástica que se fundamenta em cores, planos, linhas e formas.

Eduardo Sued

As gravuras de Eduardo Sued são como suas expressões pessoais

O artista brasileiro estabelece uma nova relação entre cor e espaço, entre subjetividade e imagem, criando uma arte que convida à reflexão e à interpretação. 

Seus trabalhos não são simplesmente para serem observados, mas experimentados. O que cada espectador vê depende diretamente de sua bagagem e do ponto de vista pessoal, sendo esse justamente o objetivo da arte de Sued: estimular uma percepção única e individual. A arte de Sued não se impõe, mas sugere, permitindo que a interpretação seja tão múltipla quanto as experiências de quem a contempla. 

As gravuras de Sued, longe de serem apenas reproduções, mostram que podem ser tão expressivas quanto uma pintura. As cores são elementos que somam e subtraem, exprimindo tudo o que o artista está pensando. Como ele mesmo disse: "Eu não falo falando, falo pintando". Essa frase encapsula a essência de sua arte: uma forma de comunicação que vai além das palavras, mas que transmite ideias e emoções por meio da ação plástica. 

Obra de Eduardo Sued - Gravura em Serigrafia

Obra de Eduardo Sued - Gravura em Serigrafia

Nos trabalhos de Sued, percebe-se a transcendência de uma abordagem pessoal e introspectiva, comum nas obras de importantes pintores modernos brasileiros, como Alfredo Volpi e Milton Dacosta. Sued se distancia das características presentes em muitos artistas de sua geração e adota uma abordagem mais abrangente, incorporando elementos geométricos e abstração para ir além do pessoal e atingir uma expressão mais intensa e inovadora, mas atemporal.

A trajetória de Eduardo Sued: da formação à contribuição na arte brasileira  

O artista carioca iniciou sua trajetória na arte em 1949, quando estudou desenho e pintura com Henrique Boese. Entre 1950 e 1951, trabalhou como desenhista no escritório de Oscar Niemeyer. Em 1951, foi a Paris, onde frequentou as academias La Grande Chaumière e Julian, e teve contato com obras de Picasso, Miró, Matisse e Braque. 

Ao retornar ao Rio de Janeiro em 1953, começou a trabalhar com gravura no ateliê de Iberê Camargo, onde teve seu primeiro contato com as gravuras de metal e se tornou assistente de Camargo.  

(https://www.galerialiviadoblas.com.br/catalogsearch/result/?q=ibere+camargo) 

Eduardo Sued em uma visita ao Ateliê de Gravura da Fundação Iberê

Eduardo Sued em uma visita ao Ateliê de Gravura da Fundação Iberê

 

Em 1958, mudou-se para São Paulo e passou a lecionar desenho, pintura e gravura na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) até 1963. 

Ao longo de sua carreira, Sued participou de diversas exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Em 1964, publicou o álbum de águas-fortes "25 Gravuras", um marco importante em sua carreira e na história da gravura brasileira. Entre 1974 e 1980, foi professor de gravura em metal no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. 

Embora tenha passado por uma fase figurativa, Sued se inclinou para a abstração geométrica, explorando influências de Piet Mondrian e da Bauhaus nos anos 1970. 

Em resumo, a arte de Eduardo Sued não apenas influenciou, mas também formou e inspirou, deixando um legado duradouro no ensino e na prática da gravura no Brasil. 

 

A exploração das cores e a ressignificação do preto na arte  

Eduardo Sued, de forma ousada e inovadora, não se limita às restrições cromáticas de mestres como Piet Mondrian, que usava uma paleta restrita, baseada em cores primárias e branco.  

O artista carioca sempre buscou uma exploração mais ampla, utilizando uma paleta vibrante que abrange tons como verde, roxo, rosa, entre outros, criando um campo visual muito mais dinâmico e diverso.  

Gravura em serigrafia de Eduardo Sued

Gravura em serigrafia de Eduardo Sued

 

Mas sua exploração das cores vai além da paleta: o preto, em sua obra, deixa de ser apenas um elemento de fundo ou limitação. Ele se transforma em um recurso crucial, usado não só para contornar formas, mas para dar volume e profundidade à composição. 

Quando você pensa na cor preta, você associa à sombra e à escuridão, uma uma cor "negativa"?! Historicamente, ela foi representada assim na arte. No entanto, a partir do século XIX, começou a ser vista de forma diferente, passando a ser considerada como uma cor autônoma, com potencial para criar luminosidade e não apenas escurecer a tela.  

Sued ressignifica o preto, tornando-o uma cor com identidade própria. Para ele, essa cor é trabalhada e há um entendimento complexo: ao misturar o preto com outros tons, como o azul, ele cria um preto mais profundo, mais intenso, que carrega consigo um novo significado. 

Eduardo Sued em uma exposição com gravuras em diferentes tons de preto

Eduardo Sued em uma exposição com gravuras em diferentes tons de preto

Para Sued, a experiência com a cor envolve uma dimensão de profundidade emocional e estética. O preto, para ele, não é apenas a ausência de cor, mas uma cor em si, vibrante e cheia de possibilidades expressivas. É uma tonalidade rica, capaz de evocar intensidade e complexidade, trazendo à obra uma carga de significado que vai além do que é visível e da superfície. 

 Gravura de Eduardo Sued em que as cores criam profundidade e movimento

Gravura de Eduardo Sued em que as cores criam profundidade e movimento

Assim, Sued nunca se limitou a aplicar cores, ele as transformou, conferindo a elas uma nova dimensão e profundidade em sua arte. 

 

O legado de vida e arte de Eduardo Sued 

Eduardo Sued enfrentou os inúmeros desafios de criar arte no Brasil em uma época de grandes dificuldades para os artistas. Quando iniciou sua carreira, as primeiras exposições aconteciam em livrarias, pois não havia galerias de arte no país, e, na verdade, tinham poucos pintores. 

No entanto, sua persistência e inovação levaram-no a um caminho único, rompendo barreiras e transformando a arte brasileira. 

Hoje, aos 99 anos, Eduardo Sued continua a afirmar que precisa estar em seu ateliê, imerso em sua arte, pois para ele, o ateliê é mais do que um espaço de trabalho: é um verdadeiro santuário. Lá, ele se sente em paz e, para Sued, a criação artística é uma necessidade vital, quase como respirar. Sua arte não é apenas uma atividade, mas uma forma de manter seu bem-estar.  

A arte de Sued segue forte, relevante e inovadora, sendo uma das mais procuradas por colecionadores. Sua obra continua a inspirar, sendo uma das mais significativas do cenário artístico brasileiro e ele é um ícone cuja influência ultrapassa gerações. 

Agora que você conhece mais sobre sua história e obra, aproveite para conferir o nosso acervo de Eduardo Sued.

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