Hector Carybé e Pierre Verger: a Amizade e a Influência da Bahia em suas obras

terça-feira, 5 de novembro de 2024 19:39:15 America/Sao_Paulo

Hector Carybé e Pierre Verger juntos

Hector Carybé e Pierre Verger juntos

 

Pierre Verger, francês, parisiense, fotógrafo. Hector Carybé, argentino, de Lanús, desenhista em sua essência. Qual o ponto de encontro destes dois personagens?

 

Friamente, podemos imaginar que a única coisa que os unia seria o gosto pela arte, mesmo que através de métodos, visões e técnicas completamente diferentes, um através das lentes de suas câmeras, outro através do lápis, do papel, da tinta e de seus materiais para produção de gravuras.

 

Mas, não apenas a arte foi o ponto em comum e de encontro entre os dois artistas, mas um dos locais mais característicos do Brasil, a Bahia. Uma Bahia que, na época, era consideravelmente distante culturalmente dos dias de hoje.

 

Se hoje, a cidade de Salvador carrega muitos traços característicos e culturais ainda bem fortes, não se compara ao momento em que o francês e o argentino chegaram por lá. A luminosidade, a capoeira ainda presente nas ruas e as expressões de religião ainda muito fervorosas.

 

Hector Carybé - Pelourinho - Serigrafia

Hector Carybé - Pelourinho - Serigrafia

 

Os primeiros passos de Hector Carybé e Pierre Verger na arte

 

A fotografia, para Pierre Verger, surge com seu professor Pierre Boucher, em 1932. Após o período de aprendizagem, o francês trabalhou por um longo período de tempo em periódicos da Europa e da América.

 

Já o argentino inicia sua jornada artística já no Brasil. Antes de Salvador, Carybé mora no Rio de Janeiro e completou seus estudos na Escola Nacional de Belas Artes. Como profissional da arte, seus primeiros trabalhos vieram através também de periódicos. Carybé viajava por várias regiões enviando desenhos que retratavam o local. 

 

Hector Carybé - Roda de Samba - Serigrafia

Hector Carybé - Roda de Samba - Serigrafia



Daí, surge algo em comum em suas carreiras, o interesse pelas pessoas, pelo povo, pelos bichos, e pelo conhecimento de diversas culturas através de seu trabalho. Isso a Bahia levou a eles como nenhum outro lugar foi capaz, além da alegria, da felicidade natural e espontânea e isso é de muito fácil percepção através da análise de suas obras.



A chegada de Hector Carybé e Pierre Verger a Salvador

 

Ao contrário do surgimento de suas profissões, onde a pintura e o desenho precederam a fotografia, a chegada do pintor e desenhista Hector Carybé a Salvador foi posterior a do fotógrafo Pierre Verger. 

 

Pierre Verger já tinha residência fixa em Salvador desde 1946, no início, Verger trabalha na Revista Cruzeiro, mas seu trabalho se move consideravelmente da fotografia para estudos etnológicos e à escrita. Isso se dá principalmente pelo sentimento de unidade que sentiu junto ao povo baiano.

 

Foto de Pierre Verger na Exposição “Verger e o Mercado Modelo”

Foto de Pierre Verger na Exposição “Verger e o Mercado Modelo”

 

Vindo de terras mais próximas, o argentino fixou residência em  solos soteropolitanos em apenas em 1950, seis anos mais tarde de sua primeira visita e quatro anos depois do Francês, após vir do Rio de Janeiro, onde já tinha dado seus primeiros passos no meio artístico. Após sua chegada, Carybé produz painéis para o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, pinta murais e obras públicas e se insere completamente no cotidiano local.

 

É curioso que mesmo não como motivo principal, os dois foram instigados a conhecer a capital baiana também por uma influência em comum: Jorge Amado. A descrição e as obras escritas de um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos sobre a capital baiana e seu modo de viver único trouxeram ainda mais curiosidade para os artistas estrangeiros. 

 

Além disso, é mais curioso ainda que, mesmo que sendo o último a fixar residência, Hector Carybé, que já conhecia a capital baiana, em uma das conversas quando se conheceram, levou o assunto “Bahia e Salvador” ao diálogo entre os recém amigos, que se conheceram no Rio de Janeiro, inserindo o francês a cultura baiana, levando-o a um terreiro de umbanda no Rio.

 

A partir daí, foram mais de 50 anos de amizade, de trabalhos que tinham muito em comum e que elevaram a cultura baiana e africana dentro e fora do Brasil.

 

 Hector Carybé - Mercado - Serigrafia

Hector Carybé - Mercado - Serigrafia



O Cotidiano Baiano nas Obras de Carybé e Verger

 

Logo que chegou, mesmo partindo para outras vertentes da arte, as fotografias de Verger começam a retratar a cultura negra da capital baiana e o cotidiano da cidade, como as ruas, as moradias, as pessoas, os homens e as mulheres que trabalham e movimentam a cidade. com seu trabalho etnológico e como escritor, também se aproxima do povo, observa nos primeiros trabalhos, e depois disso vai a campo como pesquisador. Em pouco tempo já se torna parte do local, se inclui completamente na cultura local, se converte e participa ativamente das manifestações religiosas do Candomblé.

 

Foto de um pescador por Pierre Verger

Foto de um pescador por Pierre Verger



Essa curiosidade pelas culturas afro e baianas fazem com que o francês se interesse a procurar as raízes africanas e baianas no continente africano. Na África, buscou retratar imagens dessas raízes e as comparou com o que era visto em solo brasileiro.

 

O desenhista, pintor e gravador Hector Carybé igualmente se interessou pelos temas cotidianos e os inseriu em seus desenhos e pinturas rapidamente. 

 

Hector Carybé - Pesca - Serigrafia

Hector Carybé - Pesca - Serigrafia

 

Por fim, um trabalho em conjunto entre os amigos é o que melhor retrata a parceria e as trocas de influência e conhecimento de anos e anos, o livro “Carybé & Verger - Gente da Bahia”. Na obra, estão vários retratos em preto e branco do francês, que ganharam vida e cor pelas maos do argentino, ambos que de estrageiro tinham muito pouco, mas da Bahia, viveram e retratam tudo.

 

A Galeria Livia Doblas tem diversas obras do artista baiano e argentino Hector Carybé. Clique aqui para conferir as peças disponíveis. 

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