León Ferrari e a Arte como protesto e experimentação
León Ferrari
O artista plástico León Ferrari, é uma das figuras do cenário da arte mais importantes da Argentina e do mundo. O argentino marcou sua trajetória principalmente pelo seu legado na obra experimental com uma levada política única.
As técnicas que usou para suas produções são inúmeras, a pintura, a escultura, a gravura e a arte multimídia talvez sejam os pontos principais de sua obra, que não abrem mão de um senso crítico incrustado. Neste artigo do Blog da Galeria Livia Doblas iremos passar por inúmeros fatos de sua carreira, desde suas técnicas, até principais obras e influências de sua obra na arte contemporânea.
Os primeiros passos de León Ferrari na Arte
Argentino de Buenos Aires, León Ferrari nasceu em 1920 e teve um início tardio no mundo das artes, o que não é algo comum entre os artistas de maior sucesso. Algo que também é incomum é a sua formação acadêmica, o artista se formou como engenheiro químico, e apenas começou a produzir suas primeiras peças em cerâmica durante uma estadia na Itália nos anos 1950. Já sua primeira exposição individual ocorreu em 1955, na Galeria Cairola, em Milão. Ao retornar para a Argentina, ele mergulhou na experimentação com diferentes materiais e formatos.
Na década seguinte, o artista argentino passou a se destacar ao criar esculturas inovadoras, com arames e de aço inoxidável, além disso, também produziu desenhos caligráficos e colagens que uniam a arte em texto e em imagem também de maneira inovadora. Esse período também foi crucial para algo que seria uma de suas marcas da carreira, o gosto por temas políticos, que refletiria fortemente em sua obra a partir dessa época.
A Exploração da Gravura e das Escrituras
Mesmo sendo um artista multifacetado, León Ferrari também explorou, e muito, a técnica da gravura. Os temas mais trabalhados por ele na técnica, sem nenhuma dúvida, foi a utilização da palavra e das letras como forma de arte, trazendo como uma conversa, a relação entre o escrito e a imagem. A série "Escrituras" é um exemplo marcante dessa interseção.
A arte política de León Ferrari
Foi em meados da década de 1960, quando León Ferrari se aproximou do Instituto di Tella, um centro cultural progressista de Buenos Aires, que sua aproximação da política ocorreu, a partir daí, participou de movimentos políticos como "Tucumán Arde" de 1968, que foi um protesto artístico contra a ditadura militar argentina e foi aproximando suas obras de temáticas subsequentes. Além disso, sua produção passou a abordar críticas fortes e rudes à Igreja Católica, ao imperialismo dos Estados Unidos e à violência dos regimes ditatoriais.
Uma de suas obras mais reconhecidas mundialmente é "La civilización occidental y cristiana" que ilustra de forma única a evolução de sua temática para a crítica. A escultura de Ferrari é nada mais nada menos que uma representação de Cristo crucificado sobre um avião norte americano que leva mísseis para um bombardeiro. A obra em si, portanto, acaba por denunciar o uso da religião como justificativa para a violência e para a guerra.
León Ferrari - La civilización occidental y cristiana
Apesar disso trazer uma relevância absurda para sua carreira, nem tudo são flores, a repressão política aos críticos na Argentina durante os anos 1970 acabou por forçar Ferrari a se exilar no Brasil, fixando moradia em São Paulo, daí surge a sua relevância para a arte brasileira, por aqui, ele permaneceu até 1984. Esse período foi crucial para que seu trabalho experimental trouxesse ainda mais recursos ao seu repertório.
León Ferrari e a estadia no Brasil
Durante seu exílio no Brasil, León Ferrari criou laços no local que o acolheu, a inquieta e imparável cidade de São Paulo, ela foi a responsável por sua conexão a artistas, intelectuais e a locais extremamente importantes no cenário da arte e que buscavam e que também demonstravam interesse pelo novo, assim como pela inserção de novos tipos de arte aos seus repertórios e pela crítica política e social, algo que já era uma das partes mais importantes de sua vida como um todo. Então, o único e principal motivo que o trouxe até aqui não seria deixado de lado durante sua estadia.
Como dissemos, por aqui, León se manteve na ativa quanto aos trabalhos críticos, na verdade, aumentou sua produção quando foi atrás de uma forma que ampliasse e escalasse seu trabalho dentro da temática: produzir em massa e para o povo. Para isso, León ampliou seus conhecimentos dentro da arte postal, que seria um meio acessível e que lhe permitia difundir suas críticas políticas e culturais de forma massiva e amplamente direta para o povo.
Podemos destacar também como um fator importante durante o seu período no Brasil, a criação de contatos dentro do meio artístico brasileiro, isso permitiu que colaborações mútuas saíssem do papel que ele trouxesse ainda mais a política para perto de sua temática principal. Além do lado crítico, durante o período no Brasil, como artista multifacetado que era, León também inseriu técnicas ao seu conhecimento e produziu arte como instalações interativas.
Anos após sua chegada, a partir da década de 1980, León Ferrari participou de exposições importantes no Brasil, como uma das mais faladas no meio da arte da época e dos dias de hoje, a Bienal de São Paulo. Tais participações tiveram extrema importância e consolidaram seu nome no cenário artístico brasileiro.
Por fim, podemos considerar que por esses e outros motivos, damos um reconhecimento importante para o seu legado no país. Por isso, é um fato que muitas de suas obras podem ser encontradas em acervos, galerias e museus ao redor do país.
O legado e o reconhecimento de León Ferrari
Foi nos últimos anos da vida de León Ferrari que houve um amplo reconhecimento internacional pela sua obra, por seu trabalho e pelo legado como um todo deixado por ele. Em 2007 veio um dos momentos mais importantes de sua carreira, quando foi premiado com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza, esse prêmio permitiu que ele percebesse sua importância no cenário artístico global da arte.
Hoje, mesmo após 12 anos de seu falecimento, podemos ver que seu trabalho continua a ser exibido, e o mais importante, estudado em diversas instituições de renome.
O Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, o Museu Nacional de Belas Artes da Argentina e o Instituto Moreira Salles no Brasil são locais onde podemos analisar e apreciar as belas obras do artista. Além disso, sua família e fundações ligadas ao seu nome também trabalham ativamente para preservar e divulgar sua obra e seu acervo.
Críticos também consideram que sua obra continua a provocar reflexões sobre a política, a religião, a violência e a liberdade de expressão, mesmo vivendo décadas após a produção de algumas delas.
Leon Ferrari - Exposição em Buenos Aires
Podemos considerar que León Ferrari foi, antes de qualquer qualidade, um artista completo e comprometido com o que viveu em seu tempo, que fez da arte um instrumento de luta e resistência. Seu nome segue vivo, desafiando convenções e expandindo os horizontes da expressão artística.
Além dos museus, sua obra está presente nas mais importantes galerias do mundo, então, se gostou de saber um pouco mais sobre um dos artistas mais importantes da Argentina e que fez história no Brasil, clique aqui e confira o acervo de León Ferrari na Galeria Livia Doblas.
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