Manabu Mabe: como os dias chuvosos moldaram a carreira do artista
Manabu Mabe
Manabu Mabe nasceu em 1924, na cidade de Kumamoto, no Japão. Aos dez anos, ele se mudou para o Brasil com os pais e três irmãos, para Lins, no interior de São Paulo, para trabalhar em uma lavoura de café. Foi nesse cenário que sua trajetória artística começou a se desenhar.
A razão? A chuva.
Os dias chuvosos impediam o trabalho no campo, então Manabu e a família ficavam em casa. Nessas ocasiões, ele transformava o tempo livre em um exercício de criatividade: desenhando e pintando. Esse hábito foi essencial para desenvolver o talento que ele já demonstrava desde a infância.
Manabu Mabe: o artista autodidata
O nome "Manabu" significa "aprender" em japonês, e esse significado reflete diretamente o espírito do artista Manabu Mabe, conhecido por sua capacidade autodidata de explorar, observar e criar.
Desde o início de sua trajetória, Manabu demonstrou um talento nato para a arte, mesmo sem dedicar anos a estudos formais. Ele explorava o que via ao seu redor e expressava suas percepções em suas obras. Suas primeiras gravuras apresentavam características figurativas, retratando paisagens, a natureza, objetos e figuras humanas. Para ele, pintar, gravar e ilustrar eram formas de capturar a vida.
Manabu Mabe - “Colheita de Café” - Óleo sobre tela
Mas como forma de evoluir, Manabu passou a buscar inspiração e aprendizado. Em uma viagem para São Paulo conheceu o pintor Tomoo Handa, que o incentivou a explorar ainda mais a natureza como tema artístico.
Em 1948, começou a estudar com o pintor Yoshiya Takaoka, que lhe transmitiu conhecimentos técnicos e teóricos. Nesse período, integrou o Grupo Seibi e participou de estudos com o Grupo 15, ao lado de artistas como Shigeto Tanaka e Tomoo Handa.
Assim, novas características surgem no seu repertório artístico: o nu, paisagens e naturezas-mortas, evoluindo de um estilo conservador para influências impressionistas e fauvistas.
Mesmo com essas influências, Manabu manteve sua essência autodidata. Ele era um eterno aprendiz, incorporando o aprendizado às suas criações e deixando um legado artístico único.
Do artista da figurativa à mestre do abstrato: a ascensão artística de Manabu Mabe
Como mencionamos, Manabu Mabe começou sua trajetória artística com obras figurativas, criando desenhos com crayon e aquarelas que capturavam paisagens, figuras humanas e as cores vibrantes da natureza. A simplicidade e beleza dessas primeiras criações davam a impressão de que sua inspiração vinha facilmente.
Manabu Mabe - “Maternidade” - Óleo sobre tela
Porém, com o tempo, Manabu demonstrou que sua arte era muito mais do que representação visual: era expressão pura.
Suas obras evoluíram para um estilo marcado pela gestualidade, manchas expressivas e uma sofisticada paleta de cores. Tons vivos e intensos, combinados a traços ousados, começaram a dar forma a composições abstratas, algumas delas remetendo à caligrafia japonesa.
Manabu Mabe - Serigrafia
Ao incorporar formas caligráficas, desenvolveu uma linguagem lírica única, onde as cores transmitem emoção e poesia. Ele também experimentou formas geometrizadas, aproximando-se do cubismo, e usou traços negros marcantes para contornar figuras.
Com o tempo, Manabu Mabe se aproximou de aspectos do tachismo, outra vertente do expressionismo abstrato, e essa combinação de técnicas e emoções fez com que suas obras conquistaram não só o Brasil, mas o mundo, estabelecendo-o como um dos grandes mestres do abstracionismo.
E, se seu nome é sinônimo de aprendiz, o artista se torna, na verdade, um grande mestre. Considerado o pioneiro do abstracionismo no Brasil, tem a trajetória marcada com traços que emocionam e técnicas que inspiram.
Manabu Mabe: gravuras, arte e expressão que levam a títulos e reconhecimento
Manabu Mabe e sua família precisaram correr riscos para que ele pudesse seguir seu caminho artístico. Um desses grandes passos foi a venda do cafezal da família no interior de São Paulo, um ato que trouxe incertezas, mas também abriu portas para um futuro promissor.
A aposta logo mostrou resultados. Apenas dois anos depois, Manabu começou a colher os frutos de sua dedicação. Em 1959, recebeu o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea com suas pinturas abstratas Grito e Vitorioso, criadas em 1958.
E ambas gravuras têm contextos interessantes: “Grito” representava a sua alegria por participar do evento. E “Vitorioso” foi uma homenagem ao desempenho de Pelé na Copa do Mundo de 1958.
Manabu Mabe - “Grito” - Laca sobre Tela
O sucesso não parou por aí. Ainda em 1959, Manabu participou da 5ª Bienal Internacional de São Paulo com as obras “Composição Móvel”, Pedaço de luz e Espaço branco, todas daquele ano, e foi premiado como Melhor Pintor Nacional.
A consagração nacional e internacional veio em seguida: ele foi premiado na 1ª Bienal dos Jovens de Paris; teve um artigo dedicado a ele na revista Time, intitulado The Year of Manabu Mabe (O Ano de Manabu Mabe) e, em 1960, foi premiado na 30ª Bienal de Veneza, consolidando-se como um dos maiores nomes do abstracionismo informal brasileiro.
Nos anos 1980, o talento de Manabu ultrapassou ainda mais fronteiras. Ele pintou um painel para a Pan American Union em Washington, nos Estados Unidos; ilustrou O Livro de Hai-Kais, traduzido por Olga Salvary; e criou a cortina de fundo do Teatro Provincial, em Kumamoto, no Japão.
E este é mais um artista cuja história temos a honra de compartilhar, aplaudir a sua vida e admirar a sua arte.
Se você quer conferir algumas gravuras de Manabu Mabe, confira nosso acervo de suas artes.
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