O Cotidiano e a Arte Urbana de Rubens Gerchman
Rubens Gerchman - Kiss Casal Listrado 2 - Acrílica sobre Tela
Nascido no Rio de Janeiro, em 1942, o pintor, desenhista, gravador e escultor Rubens Gerchman foi dono de uma arte política e engajada do pop, que teve como fontes de inspiração as notícias de jornais, as pessoas, as cidades e as suas ruas.
Sua influência artística veio de seu pai, que foi desenhista de logotipos para marcas, o designer gráfico dos dias de hoje. A profissão de seu pai inspirava Gerchman, ainda criança, a desenhar letras e formas.
Foi então que essa influência o levou a iniciar seus estudos de desenho em 1957, no Liceu das Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e, alguns anos depois, fez também curso de xilogravura com Adir Botelho. Ainda como parte de sua formação, Gerchamn frequentou a Escola Nacional de Belas Artes, entre 1960 e 1961.
Rubens Gerchman - Sem Título - Técnica Mista
O Artista que Viveu a Cidade
Rubens teve sua primeira experiência profissional na função de assistente de programação visual de revistas, na Editora Manchete, trabalhando como diagramador de matérias jornalísticas. Depois trabalhou com fotonovelas na revista “Sétimo Céu”, onde criava e desenhava as histórias das relações dos personagens. Essa experiência deu a ele o contato com a leitura do contexto social e pode ter sido a faísca que despertou a sua criatividade em pintar a arte urbana.
Rubens Gerchman - Série Cinema - Técnica Mista
Rubens já se definiu como uma pessoa curiosa com a vida. Dizia que estava sempre intrigado em saber como as pessoas viviam e se deslocavam. Foi a partir dessa curiosidade que ele retratou o tema Urbano em suas artes, pintando pessoas, multidões e muitos ônibus, o que foi inusitado para a arte Brasileira.
Gerchman é conhecido como um artista da Pop Art, mas ele próprio dizia não encaixar sua arte no movimento, já que este era mais representado pela arte importada que retratava o período da industrialização, enquanto a sua tinha o diferencial da crítica social.
Feita na pedra litográfica, “O ônibus”, que ilustra os passageiros, feita em 1962, foi uma das primeiras pinturas que, além de expressar a temática Urbana, tem a característica que marcou o início de carreira de pintor, o Black & White.
Rubens Gerchman - O Ônibus – Litogravura
Como um bom observador do cotidiano, o histórico prédio carioca “Duzentão”, da Rua Barata Ribeiro, foi fonte de inspiração para Gerchman, que morava na frente da edificação e ficava observando os apartamentos e seus moradores. Surgiu daí as “Caixas de Morar”, pinturas de cubos com personagens dentro, retratando os moradores em seus apartamentos.
Rubens Gerchman – Caixas de Morar – Pintura
Os Caminhos de Gerchman
Rubens iniciou suas exposições em 1963 e em seu trajeto fez mostras individuais e coletivas, em sua cidade natal, na Oitava Bienal de São Paulo, passou por Paris e também pelo Museu de Arte Moderna de Buenos Aires.
Em 1967 ganhou um prêmio de viagem para os Estados Unidos e se mudou para lá. Em solo Americano ele “dá um tempo” das pinturas. Por uma crise existencial, como ele mesmo dizia, passou a atuar mais como planejador e investiu em esculturas de palavras como “Tool”, “Air” e “SOS”. A partir de 1972 suas esculturas já são consideradas mais um sucesso e, neste ano, ele volta ao Brasil e também às pinturas.
Outras vibrações na Nova Fase Brasileira
O retorno às pinturas traz críticas à ditadura até o seu fim e o marca com uma artista de boas artes políticas engajadas.
Em 1975, Gerchman passa a ser diretor do antigo Instituto de Belas Artes na Escola de Artes Visuais, que se torna a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, uma Escola inovadora para a época. Rubens fica no cargo até 1979.
Os anos 80 trazem novas características para as obras de Gerchman que continua, claro, retratando o Urbano, mas com cores mais vivas e fortes e novos temas. Ciclistas, beijos e paisagens, trazem um retrato do cotidiano de forma mais descontraída.
Rubens Gerchman - Beijo 1 – Serigrafia
Gerchman segue com o ritmo de trajetos nacionais e internacionais, conquistando muitos outros momentos marcantes em sua carreira, como o prêmio Golfinho de Ouro ,Personalidade do Ano, o lançamento de um livro de litografias com textos de Armando Freitas Filho, o “Doublé Identity”, e também do livro “LUTE”.
Rubens Gerchman - Beijo 5 – Serigrafia
O Instituto Rubens Gerchman
São muitos acervos e exposições que têm os trabalhos de Rubens Gerchamn em seu acervo. Além deles, foi criado logo após o falecimento do artista o Instituto Rubens Gerchman, com o intuito de eternizar o trabalho do carioca que gerou uma enorme quantidade de obras.
Além delas, no Instituto há mostras de seus materiais de trabalho, biblioteca pessoal, periódicos históricos, correspondências e até mesmo fotografias do artista.
Até seu último ano de vida, o artista carioca continuou marcando história com suas obras pelo mundo. Uma das mais importantes aconteceu em 2007, a “Los Once: Futebol y Arte”, feita no Centro Cultural Estación Mapocho, de Santiago.
Rubens Gerchman morre alguns anos depois aos 65 anos.